
Hoje cedo, enquanto eu estava tomando café, reparei naquela pausa quase imperceptível enquanto ela dobrava as roupas da escola. Os dedos pararam no caderno do caçule, como se estivesse lendo uma mensagem invisível nas dobras do papel.
Lembrei das notícias sobre IA prevendo comportamentos infantis antes mesmo das crianças. Mas naquele momento, só existia aquele gesto leve: virar a página com cuidado, arrumar o lápis quebrado, sorrir sozinha com uma resposta engraçada.
É assim que a gente descobre a verdadeira resiliência – não em apps que prometem soluções, mas nesses movimentos silenciosos que fazem suas mãos tremerem de emoção.
Sabe quando a gente sente aquele aperto no peito ao ver alguém criando com tanto amor? Comigo foi assim… vem cá, senta aqui comigo.
Esses pequenos gestos diários me fazem refletir sobre algo maior…
A ‘Inteligência’ Que Ninguém Baixa no Celular

Já viu quando ela percebe que o mais velho vai chorar antes mesmo dele sentir? Nem precisa de app. É o olhar que descola do fogão, o braço que se estende sem pensar.
Eles falam que IA detecta padrões… mas a gente sabe que mãe verdadeira não segue algoritmo. É aquele instante em que ela troca o copo d’água por suco natural, só porque notou os olhos dele pesados.
Será que ela mesma percebeu? Pra mim é claro: nenhuma máquina capta a coragem calma de uma mãe que desliga o wi-fi na hora do jantar. Não pra controlar, mas pra ouvir. Pra deixar o silêncio falar alto quando a criança diz ‘pai, eu tô com medo’.
A IA pode sugerir filmes educativos, mas não inventa aquele abraço que acalma o pesadelo às três da manhã. É nisso que a gente precisa confiar mais: no coração que já sabe o que o app ainda nem sonhou medir.
O Perigo de Entregar o Controle (E a Chance de Ganhar Tempo)

Cuidado com a tentação de dizer ‘deixa o robô resolver’. A gente já ouviu falar de pais usando IA pra corrigir lições.
Mas pense comigo: e se a criança só aprender a repetir o que a máquina disser? Minha sogra sempre falou: ‘educação não é transferir conhecimento, é acender a chama’.
O perigo não é a tecnologia – é esquecer que a criança precisa de erro pra crescer. Lembra quando seu filho fez aquela conta errada que virou história de família? Isso não se programa. A beleza está em como a mãe aproveita esses momentos pra dizer ‘vamos descobrir juntos’.
A IA, se usada certo, pode ser aliada. Imagine ela liberando tempo pra você brincar de verdade, sem pressa. Tempo pra ver o filho montando o castelo de lego errado mas feliz. Tempo pra ouvir a filha explicar sobre planetas com os olhos brilhando… esse tempo sim é ouro. Como nossas famílias ensinaram, o tempo juntos é mais valioso que qualquer agendamento perfeito.
O Que A Gente Não Deixa Entrar no Algoritmo

Tem coisas sagradas que mantemos longe da câmera do celular. Tipo aquela risada boba na hora do banho, ou o segredo que ela sussurra no ouvido da criança antes de dormir.
Nunca vi um app que capture a magia do ‘amanhã a gente tenta de novo’ quando o projeto escolar dá errado.
É justamente aí que mora a resiliência que a IA não entende: não é sobre acertar sempre, é sobre levantar juntos.
Já parou pra pensar nas noites em que ela fica acordada só pra ver se o pequeno engoliu direito? Nenhum relatório de IA mostra isso.
O que a gente precisa preservar é exatamente o oposto do digital: aquelas perguntas sem resposta pronta, os abraços que duram dois minutos a mais, o ‘tô aqui’ sussurrado no escuro.
Porque no final, o que fica registrado não é o histórico do computador, mas a certeza de que quando tudo falha… alguém segura sua mão.
Por isso, enquanto a tecnologia avança, eu volto para onde sempre comecei: para aquela pausa silenciosa enquanto dobra roupas, para o instinto que nenhum algoritmo pode programar, para a certeza de que o melhor pai é aquele que sabe… simplesmente estar presente.
Source: Judge of the Day: Chai’s Roger Rohatgi sees AI shaping life beyond the screen, The Drum, 2025-09-15
