A escada para o sucesso sumiu, meu bem. É hora de construir um parquinho para eles.

Pai e mãe observando crianças dormindo com expressão amorosa

“Meu bem, eles já dormiram?” É só no final da noite, quando o silêncio finalmente toma conta da casa, que temos um momento só nosso. Sentados lado a lado no sofá, recuperando o fôlego sem dizer uma palavra, lembrei-me de algo que li hoje. A ideia de que a ‘escada para o sucesso profissional’ como a conhecemos vai deixar de existir. Enquanto pensava nisso, a imagem do nosso filho, que passou a tarde inteira construindo o seu próprio mundo com peças de montar, veio à minha mente. Aquelas pequenas costas curvadas, totalmente imerso, destruindo e reconstruindo sem medo de errar, como se dissesse que não precisa ser perfeito. Talvez, em vez de construir uma escada sólida para eles, o nosso trabalho seja criar um parquinho bem macio, onde possam cair e levantar à vontade. Não se trata de fazê-los decorar respostas prontas, mas de cultivar a força para que façam as suas próprias perguntas e encontrem os seus próprios caminhos. E, quando olho para você, sinto que já estamos a fazer exatamente isso.

O mapa antigo já não serve (e isso é maravilhoso!)

Criança desmontando e remontando brinquedo com expressão concentrada

Para ser sincero, às vezes sinto-me ansioso. Sempre que leio notícias sobre como a inteligência artificial vai substituir empregos, a minha mente fica um turbilhão a pensar: ‘Como é que os nossos filhos vão viver neste mundo?’. Aquela fórmula de sucesso que nos ensinaram — ir para uma boa universidade, conseguir um emprego estável — parece um mapa antigo e desatualizado.

Mas, estranhamente, no meio dessa ansiedade, sinto também uma espécie de libertação. Ufa, que alívio não precisamos mais empurrá-los pra uma única resposta certa! Pelo contrário, agora o que importa de verdade é aquilo que as máquinas não conseguem copiar: a cor única e as capacidades que só os nossos filhos têm. Você também já sentiu isso? A força para aprender constantemente, para experimentar e para enfrentar o mundo à sua maneira. Como entre nós, pais coreano-canadenses, onde a tradição encontra a inovação a cada refeição. Eu vejo essa nova possibilidade na forma como você não lhes entrega um mapa antigo; você pega na mão deles e explora novos territórios, juntos.

Não é ‘o que’ aprenderam, mas ‘como’ exploraram

Mãe e criança apontando para o céu azul durante passeio

Hoje, o nosso pequeno perguntou: “Pai, porque é que o céu é azul?”. Por um instante, preparei-me para dar uma explicação científica. Mas você, ao lado, olhou-o nos olhos e disse: “Que pergunta ótima! E que cor é que tu gostavas que o céu fosse?”. Naquele momento, fiquei de queixo caído.

Eu estava focado em dar a ‘resposta certa’, mas você estava a alimentar a ‘curiosidade’ dele. Essa liberdade de não precisar ter todas as respostas? Ela começa com os pequenos momentos de curiosidade que nutrimos em casa. A cabeça das crianças é como um pequeno motor que funciona com a pergunta ‘porquê?’. À medida que crescemos, aprendemos a desligar esse motor, mas você estava lá, a garantir que o dele continuasse a trabalhar com ainda mais força.

Isso fez-me pensar que, em vez de perguntar ‘o que aprendeste hoje?’, talvez devesse perguntar ‘que pergunta divertida fizeste hoje?’. Graças a você, que ri das perguntas mais inesperadas e responde com mais imaginação em vez de respostas prontas, o mundo dos nossos filhos expande-se um pouco mais a cada dia. É assim que se incentiva a curiosidade na sua forma mais pura.

A nossa cozinha é o laboratório de inovação mais incrível do mundo

Família fazendo bolo com farinha espalhada na cozinha sorrindo

Dizem que as competências do futuro são a criatividade, a colaboração e a capacidade de resolver problemas. Parece algo muito complexo, mas a verdade é que temos praticado isso todos os dias, em casa. Nossa criação dos filhos é como planejar uma aventura – você prepara, mas deixa espaço para descobertas inesperadas no caminho. Por exemplo, quando fizemos aquele bolo de chocolate no fim de semana. Quando a nossa filha despejou farinha a mais e fez uma bagunça, em vez de ralhar com ela, você disse com uma risada: “Uau, uma montanha de neve! Como é que vamos transformar esta tempestade num bolo delicioso?”.

Naquele pequeno momento, fizemos tanto juntos. Ajustámos a receita (resolução de problemas), trabalhámos em equipa para limpar e misturar os ingredientes (colaboração) e acabámos com um bolo de formato único que batizámos de ‘bolo vulcão’ (criatividade). A nossa mesa da cozinha é um lugar de aprendizagem muito mais vivo do que qualquer sala de aula. E você é a diretora deste incrível laboratório de inovação.

As verdadeiras competências que não aparecem no boletim

Mãe lendo livro com crianças debatendo expressões faciais das personagens

Quantas vezes já nos preocupámos com os números num boletim? Mas o mundo que aí vem vai exigir competências que esses números não conseguem medir. Quando vejo você a ler uma história para eles antes de dormir, eu sinto essa força. Você estimula a imaginação deles ao perguntar: “E se o herói tivesse feito uma escolha diferente?” (criatividade). Você ajuda a desenvolver a inteligência emocional deles ao conversar sobre os sentimentos das personagens (empatia).

Quando um deles fica frustrado com um puzzle, em vez de dizer “Não desistas!”, você aproxima-se e pergunta: “Qual é a parte mais difícil? Vamos tentar juntos?”. É nesses momentos que eles aprendem a superar a frustração e a resolver problemas em conjunto, desenvolvendo resiliência. Estes momentos não são registados em nenhuma pauta, mas ficam guardados no coração deles, construindo os ‘músculos emocionais’ que os vão sustentar perante qualquer desafio.

Não estamos a dar-lhes um mapa, mas sim uma bússola

No fim de contas, o que temos de lhes deixar não é um mapa que diz ‘para onde ir’, mas uma ‘bússola interna’ que os ajude a encontrar a direção em qualquer caminho desconhecido.

Por mais imprevisível que o mundo se torne, se eles mantiverem a curiosidade, a empatia pelo próximo e a coragem para se levantarem depois de uma queda, sei que conseguirão viver as suas vidas de forma plena e feliz.

Às vezes, também eu fico impaciente, começo a fazer comparações e sinto-me inseguro. Mas, nesses momentos, penso em você. Em como você não aponta para um caminho de sucesso predefinido, mas valoriza cada pequeno passo que eles dão, sempre ao lado deles. Com você, sinto a certeza de que conseguiremos dar-lhes a bússola mais forte e precisa do mundo. Assim como nós somos um para o outro. Obrigado por isso, meu bem. Então, vamos continuar sendo esse parquinho macio onde nossos filhos possam experimentar e se levantar com força, sempre juntos nessa jornada.

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