
Você já parou para observar de verdade seu filho interagindo com a tecnologia? Não só notar de passagem, mas observar mesmo… a forma como a cabeça inclina um pouco ao ouvir a resposta de um assistente de voz, ou a rapidez dos dedos que parece mais instinto do que aprendizado. Eu já. E nesses momentos, sinto uma mistura de fascínio e uma certa inquietação. A gente se pergunta, não é? Como podemos navegar a inteligência artificial sem que ela se torne uma barreira? A verdadeira questão não é sobre acompanhar cada novo aparelho. É algo mais profundo: perceber que a nossa própria relação com a tecnologia, seja ela de entusiasmo, de cautela ou de curiosidade, é o primeiro espelho em que eles se olham. É a partir de nós que eles começam a construir a bússola digital deles. Vamos conversar sobre isso, não como especialistas, mas como pais que caminham juntos nesta jornada.
O primeiro passo: um olhar honesto para nós mesmos
Antes de guiarmos as mãos pequeninas, precisamos olhar para as nossas. A forma como pegamos o celular numa pausa da conversa, o suspiro diante de uma atualização de software, ou o brilho no olhar ao descobrir uma aplicação nova e inteligente. Esses gestos, por mais subtis que sejam, são o primeiro manual de instruções dos nossos filhos. Vale a pena perguntar a nós mesmos, com gentileza: quando a tecnologia entra em casa, ela é uma convidada ou uma intrusa? Eu a uso com um propósito ou ela apenas preenche meus momentos de vazio? Não há julgamento aqui. É só uma tomada de consciência. É como perceber que, instintivamente, olhamos o mapa antes de ajudar alguém a navegar por um caminho desconhecido. A nossa atitude é o ponto de partida deles.
A IA em casa: medo ou oportunidade?
Essa é a pergunta que fica no ar, não é? A inteligência artificial pode ser ameaça ou pode ser oportunidade. A verdade é que depende muito de como a gente conduz. Já vi o receio no olhar da minha parceira quando uma nova tecnologia parece complexa demais, e também já vi o brilho nos olhos dela ao usar essa mesma tecnologia para criar uma história de ninar maluca com a nossa filha. Cada família tem o seu ritmo. Algumas são mais cautelosas, testando tudo mil vezes antes de apresentar aos filhos. Outras são mais curiosas, prontas para experimentar uma nova ferramenta num projeto de fim de semana. E há aquelas que são práticas, que só querem saber se aquilo vai facilitar a rotina da manhã. O mais bonito é que, na maioria das vezes, somos uma mistura de tudo isso. A presença dos pais muda tudo, transformando o que poderia ser um isolamento numa tela num momento de partilha e diálogo. É essa presença que faz toda a diferença.
Do ‘não sei’ ao ‘vamos descobrir juntos’
A magia acontece quando trocamos o medo de não saber a resposta pela alegria de procurar junto. Da próxima vez que o seu filho perguntar como um assistente de voz funciona, que tal tentar: ‘Que pergunta ótima… como é que a gente pode descobrir isso juntos?’. A dica é clara: use junto, pergunte junto, converse com ele sobre as respostas. Transforme momentos simples em pequenas aventuras. Peçam a uma IA para criar uma história de embalar com o animal de estimação da família como super-herói. Ou para imaginar como seria a casa na árvore dos sonhos de vocês antes de a desenharem no papel. O objetivo aqui não é ter as respostas certas, mas sim sentir aquela faísca no olhar da criança quando ela percebe que a sua curiosidade é mais valiosa do que qualquer conhecimento pronto. É aí que a conexão emocional e o diálogo se tornam a base para que a IA seja vista como uma ferramenta, e não como um substituto para as nossas relações.
Cultivar um olhar, não apenas uma habilidade
As aplicações e os aparelhos de hoje podem tornar-se obsoletos amanhã. Mas as qualidades que cultivamos através de um uso consciente da tecnologia — a resiliência para lidar com uma falha, a criatividade para usar uma ferramenta de um jeito único, o discernimento para perguntar ‘isto realmente nos serve?’ — são presentes para a vida toda.
No fim do dia, o nosso papel mais importante não é ter um mapa do futuro, mas sim mostrar aos nossos filhos como explorar o desconhecido com um sorriso curioso e o coração aberto.
Quando os nossos filhos nos veem aprender, mesmo com o risco de errar, e valorizar as perguntas mais do que as respostas rápidas, eles herdam algo muito maior do que a literacia digital. Eles ganham fluência na esperança. E esse equilíbrio entre tecnologia e desenvolvimento infantil começa connosco, no nosso exemplo, no nosso abraço depois de desligar a tela.
Fonte: The 4 types of AI Marketers – AI Minimalists to AI Builders, Seer Interactive, 2025-09-15
