
Outro dia, aqui no parquinho perto de casa, eu estava de olho na minha filha. Ela e os amigos estavam numa missão seríssima: construir a maior fortaleza de areia que o mundo já viu. Um trazia um balde d’água, o outro cavava, e minha pequena era a ‘arquiteta’, gesticulando com uma paixão que faria qualquer engenheiro chorar de emoção! Enquanto eles negociavam, resolviam problemas (‘A torre caiu!’) e riam, eu lia uma notícia no celular que me deu aquele frio na barriga. O artigo falava que a Inteligência Artificial está basicamente demolindo a ‘escada da carreira’ que nós conhecemos. Aquela ideia de começar por baixo, no primeiro degrau, e ir subindo… parece que está com os dias contados. Meu primeiro pensamento? PÂNICO! ‘Meu Deus, e o futuro da minha filha?’. Mas então, eu olhei de novo para aquele time de construtores de castelos de areia. E, gente… a ficha caiu com um estrondo. A resposta não estava no meu celular. Estava bem ali, na minha frente, coberta de areia e dando risada.
A notícia que nos assusta: O primeiro degrau desapareceu?

Vamos pensar nisso por um momento… A gente cresceu com um mapa na mão. Estude, tire boas notas, entre numa boa faculdade, consiga um estágio, seja efetivado e comece a subir. Era a escada. Um caminho claro, linear. Podia ser difícil, mas a gente sabia para onde estava indo.
A notícia que li, e outras pesquisas que estão pipocando por aí, dizem que a IA está automatizando justamente esses primeiros degraus. As tarefas de nível júnior, aquelas que a gente fazia para ‘pegar experiência’, estão sumindo. Uma pesquisa mostrou uma queda de mais de 35% nas vagas de entrada em alguns setores. É como se quisessem contratar alguém com 3 anos de experiência, mas ninguém oferecesse a chance de conseguir esses 3 anos de experiência. Isso realmente nos faz refletir, não é mesmo?
A gente se preocupa se eles estão aprendendo o suficiente na escola, se precisam de atividades extras, se estão ‘se preparando’. Nosso instinto é querer dar a eles o mesmo mapa que usamos, talvez uma versão melhorada. Mas o que a gente faz quando o próprio terreno mudou? Quando não existe mais uma escada, mas um campo aberto, talvez até meio caótico?
A primeira reação é o medo. A segunda, e é aqui que a mágica acontece, é olhar para o que realmente importa. Não se trata mais de memorizar informações para passar numa prova. O Google faz isso em segundos. O jogo virou! O que importa agora é o que nos torna humanos, aquilo que máquina nenhuma consegue replicar com a mesma genialidade.
O superpoder que eles já têm: A maestria que nasce no chão da sala?

E foi aí que, olhando minha filha e seus amigos, eu entendi tudo! Aquela ‘brincadeira’ era um treinamento de altíssimo nível para o futuro. Eles estavam praticando, sem saber, as tais ‘habilidades duráveis’ que os especialistas dizem ser a chave para o futuro do trabalho. E eles estavam fazendo isso com uma alegria contagiante! Pensa comigo, que é SENSACIONAL:
- Criatividade: Quando o balde quebra e eles inventam de usar a garrafa de água para carregar areia molhada… ISSO é inovação! Não é seguir um manual, é resolver um problema real com os recursos que se tem. É pensar fora da caixa, ou melhor, fora do balde!
- Colaboração: ‘Você cava aqui que eu coloco a conchinha ali!’. Aquela negociação intensa sobre quem faz o quê no castelo de areia é a mais pura gestão de projetos e trabalho em equipe. Eles aprendem a liderar, a ceder, a comunicar uma visão e a celebrar juntos. Quantos adultos ainda patinam nisso, não é mesmo?
- Pensamento Crítico: ‘Por que a torre de areia seca sempre desmorona?’. Essa pergunta, que parece tão simples, é a semente do pensamento científico. É observar, levantar hipóteses, testar (jogando água) e aprender com o resultado. É a curiosidade em sua forma mais potente, a base para resolver qualquer problema complexo no futuro.
- Comunicação: A história que minha filha inventa para as bonecas, com reviravoltas e diálogos emocionantes, é um workshop de storytelling! Ela está aprendendo a organizar ideias, a criar uma narrativa, a persuadir e a encantar. É a habilidade de se conectar com outras pessoas.
Percebe? Nossos filhos não precisam ‘começar’ a aprender isso. ELES JÁ SÃO MESTRES! A brincadeira não é uma pausa no aprendizado; é O APRENDIZADO na sua forma mais poderosa e natural. A gente fica tão focado no ‘ABC’ e no ‘123’ que esquece que o verdadeiro alicerce para o futuro está sendo construído com blocos de montar, massinha e joelhos ralados.
Nosso novo papel: De fiscais de tarefa a jardineiros de curiosidade?

O tédio pode ser um grande aliado da criatividade!
Então, se a escada virou um campo aberto, nosso papel como pais também muda. E quer saber? Para algo MUITO mais legal e menos estressante! Não precisamos ser chefes de estudo ou gerentes de desempenho. Precisamos ser jardineiros. Nossa missão é criar o solo mais fértil possível para que essas habilidades incríveis floresçam. E como a gente faz isso? É mais simples e divertido do que parece!
É garantir que eles tenham tempo. Tempo livre, sem agenda, sem tela, para ficarem entediados e terem que inventar o que fazer. É dar a eles materiais diversos: caixas de papelão, potes velhos, tintas, argila. Uma caixa de papelão pode ser um foguete, um carro, um castelo… é um convite à imaginação que nenhum aplicativo substitui.
Em vez de uma escada, os especialistas agora falam em um ‘loop de aprendizado’. A carreira do futuro será um ciclo contínuo: aprender algo, aplicar, ver o que acontece (talvez dar errado!), adaptar, aprender de novo e reaplicar. Sabe o que é isso? É exatamente o que nossos filhos fazem quando aprendem a andar de bicicleta! Eles não leem um manual. Eles sobem, tentam, caem, a gente dá um apoio, eles ajustam o equilíbrio e tentam de novo, e de novo, até que… SAEM PEDALANDO! Eles já vivem no ‘loop’. Nossa tarefa é encorajá-los a não ter medo de cair, a celebrar o esforço tanto quanto o sucesso.
Mas, ao observar minha filha e seus amigos, percebi que a resposta estava bem ali, na nossa frente, coberta de areia e dando risada. Então, da próxima vez que você sentir aquele frio na barriga sobre o futuro, respire fundo. Vá para a sala, sente no chão e entre na brincadeira. Construa a torre mais alta, invente a história mais maluca. Porque o que estamos construindo ali, juntos, não é só uma memória afetiva. É uma ponte. Uma ponte forte, flexível e criativa para que eles atravessem qualquer campo aberto que o futuro lhes apresentar. E, pode apostar, eles não vão só atravessar. Eles vão construir coisas incríveis por lá, cheios de esperança e determinação!
Fonte: As AI Topples Career Ladders Into No Man’s Land, Mastery Learning Is The Answer, Forbes, 2025-09-16
