
Amor, quando o último barulho da casa sumiu hoje – essa quietude que a gente quase não acredita depois do corre-corre – eu te vi ali, encostada na mesa da cozinha, com aquele olhar cansado olhando para o celular.
‘Será que a IA vai levar meu emprego?’, você sussurrou, quase pra si mesma.
Sentei do seu lado, fiz um cafézinho. Confesso, amor, que na primeira vez que ouvi sobre IA no trabalho também fiquei um pouco perdido… demorei pra entender direito do que se tratava. E então pensei: essa inquietação? Ela já morou aqui na nossa sala outras vezes. Só que antes, vinha nas costas de burros, não de algoritmos.
Lembra dos Sussurros do Vapô na Fazenda?

Você sabe, querida, hoje de manhã eu li sobre IA e aquela sensação de roubada do futuro me soou tão familiar… Igual quando ouvimos histórias de como os trabalhadores do campo ficaram com medo do trator novo na década de 1950. ‘O burro não reclama de horas extras’, eles diziam, batendo o pé no chão. Até que alguém virou mecânico daquela máquina.
Assim como os trabalhadores do campo se adaptaram ao trator, as costureiras encontraram novas formas de arte com as máquinas.
Hoje você chega do seu trabalho, exausta de ter que aprender novas ferramentas toda semana, e eu vejo você tentando entender se a IA vai apagar a sua carreira. Mas lembra o que aconteceu com as costureiras antigamente? Quando chegaram as máquinas de costura elétricas, todo mundo achou que o ofício ia morrer. Virou o oposto: nasciam profissionais novos, técnicas diferentes.
O medo de perder o emprego é tão humano, né? Mas a história sempre nos mostra: a onda nova não afoga, ela só muda nosso jeito de remar.
E você, com essas mãos que sabem fazer mil coisas ao mesmo tempo, vai encontrar seu cais novo. Até porque, quem vai programar essas máquinas senão gente como você, que já venceu burocracias complexas e organizou eventos com um só WhatsApp?
A História Não é Trem da Linha Amarela

Às vezes fico preocupado com você. Ontem, você passou a noite pesquisando ‘ferramentas de IA’ enquanto cuidava da criança pequena. Mas lembra quando a luz elétrica chegou nas cidades? Levou décadas pra se espalhar por todos os lares!
A gente vive num mundo que demorou anos pra adaptar novas tecnologias ao nosso jeito de ser… Por que acha que a revolução da IA vai acontecer da noite pro dia?
Hoje ouvi um especialista dizendo que até a eletricidade levou 40 anos pra mudar de verdade como trabalhamos. A IA vai ser igual: lenta como o cartório, mas certa como o samba do velório.
Por isso, quando você vir aquele e-mail avisando sobre ‘novas ferramentas’, respira. Não é tsunami, é maré.
Você tem tempo pra aprender, pra errar, pra tomar seu cafezinho. Lembra quando precisou dominar aquela nova plataforma pra ser promovida? A gente ficou até tarde, com as crianças dormindo, e hoje você é referência na empresa.
A próxima ferramenta vai ser só mais um passo nessa dança que a gente já conhece.
Suas Mãos Sabem Criar o que Máquinas Não Podem

Ontem, eu te vi fazer algo que nenhuma IA consegue: transformar um relatório chato em algo bonito, mas o que me impressionou foi depois. Na reunião com o cliente, você lembrou coisas pessoais dele – detalhes que até a melhor máquina ignoraria.
É aí que eu entendo: não são as habilidades técnicas que vão salvar seu trabalho, é o seu coração.
Pensa nas mãos que viraram empreendedoras depois da pandemia. Uma vizinha nossa, que vendia brigadeiro na padaria, hoje tem um negócio novo porque soube misturar receita com histórias.
Lembro como nossa filha adora quando contamos histórias da avó coreana com o tablet, misturando a tradição oral coreana com as ferramentas modernas.
A IA pode imitar a receita do brigadeiro, mas nunca vai ter a saudade da infância que ela coloca ali. Você, amor, já é uma artista disso: quando cria algo novo, não são só técnicas, é memória afetiva, é jeitinho nosso de resolver problema.
E essa coisa de organizar documentos digitalmente, que parece bobagem? Hoje é tão importante quanto aprender a ler. Quem diria que seria uma superhabilidade? Mas você já está lá na frente – enquanto eu ainda esqueço de atualizar meus aplicativos.
Nossa História Ainda Está Sendo Escrita

Sabe o que mais me preocupa? Não é a IA, mas aquela culpa que você carrega quando chega em casa tarde. ‘Será que eu deveria ter recusado o projeto?’, você se pergunta, arrumando o lanche das crianças.
Hoje li que nas grandes mudanças, as pessoas que mais se adaptaram foram as que entenderam que tecnologia é só ferramenta – o que muda o mundo somos nós.
Porque a verdade, amor, é que não somos vítimas – somos os tecelões.
Cada vez que você abre o computador cansada mas determinada, cada vez que eu assumo a rotina sem reclamar, a gente está escrevendo o capítulo novo. Se a IA vier pra ajudar a carregar essa mochila? Melhor ainda.
Porque assim sobras tempo pra dar aquele abraço sem pressa. O futuro não é um inimigo, querida. É só mais uma noite quietinha como esta, que a gente vai transformar em café, em sussurro, em jeitinho nosso de seguir em frente.
Source: AI’s Great Jobs Debate Requires a History Lesson, PYMNTS, 2025/09/17
