
Lá na varanda do apartamento, enquanto meu filho perguntava ao assistente virtual ‘por que as estrelas piscam?’, lembrei daquela noite em que ele desligou o tablet de repente e sussurrou ‘mãe, cadê seu cheiro de café?’. Vi ela se virar da pia com as mãos cheias de espuma, sorrindo: ‘Vem cheirar comigo’.
Bem, ontem li outro artigo falando do perigo das telas, mas aquele momento na cozinha — quando substituímos ‘deixa eu pesquisar’ por ‘vamos olhar juntos’ — me marcou profundamente.
Mães não estão lutando contra a tecnologia; estão tecendo redes de resiliência com cada ‘oi’ sussurrado enquanto ajustam os controles parentais.
Da pergunta digital à descoberta real

Ontem meu pequeno botou o tablet na mesa e disparou: ‘Siri, por que o céu é azul?’. Em vez de confirmar a resposta na tela, vi ela fechar o app devagar, molhar um pano com água colorida e passar na janela. ‘Olha’, falou, ‘a luz do sol é assim quando bate na poça’.
E ali, naquele apartamento de dois quartos, virou nossa ‘experiência da janela’. Dois dias depois, ele apontava nuvens na feirinha: ‘Mãe, tá parecendo o pano da janela!’. Não é sobre bloquear ou liberar.
É sobre perceber que quando ele pergunta ‘como os robôs dormem?’, essa dúvida vira nosso ritual de arrumar o quarto juntos. Ela nem responde ‘não dormem’; só pega a escova de dentes: ‘Vamos preparar nossos corpos pra descansar?’. É assim que transformam perguntas de IA em caminhadas noturnas pra ver vagalumes — porque sabem que o ‘por quê’ das crianças não quer dados, quer alguém que olhe pra elas enquanto desvenda o mundo.
O equilíbrio que nasce na correria

Na correria da manhã, ele pede ‘Alexa, desenho animado!’. Vi ela desligar o som com calma e sorrir: ‘Hoje vamos brincar de quem acha mais formas nas nuvens enquanto tomamos café’. Não é proibição; é um convite.
É engraçado como os pais se culpam por não serem ‘especialistas em tecnologia’. Mas observe: quando ele pergunta ‘Roblox é perigoso?’, ela não entra em pânico. Só olha nos olhos: ‘O que você mais gosta de criar lá?’. Essa pergunta simples vira ponte pra conversas sobre amizade, não sobre firewalls.
Essa é a arte invisível: transformar limites em rituais. Quando o alarme do tablet toca avisando ‘tempo esgotado’, ela não briga. Apenas estende o braço: ‘Vem, vou te mostrar um segredo na minha planta’. É assim que o ‘não’ vira ‘vamos descobrir juntos’ — sem moralismos, só com a confiança de que a conexão humana é a melhor segurança online.
Onde a IA falha, a família resiste

Há dias que a tecnologia engole a conversa. Lembrei daquela tarde em que ele ficou horas perguntando ao smartphone ‘qual é o meu futuro?’. Ela não interrompeu. Só se sentou ao lado e começou a dobrar lençóis, até que ele perguntou ‘mãe, você acha que vou ser feliz?’.
E ali, naquele instante, vi a magia: sem julgar a dependência dele do aparelho, ela transformou a dúvida num jogo. ‘Vem, vamos escrever cartas pro nosso eu do futuro?’. É aí que percebo a verdadeira resiliência.
Não é sobre quantos apps bloqueamos, mas sobre reconhecer quando as telas escondem solidão. Como na semana passada, quando ele apagou o desenho digital por acidente e chorou. Porque no fundo, mães sabem:
o que as crianças realmente buscam não é conteúdo digital, é sentir que alguém está ali — mesmo quando o mundo virtual parece mais interessante.
Aquele momento na cozinha, quando cheiramos juntos o café enquanto ele olhava para as estrelas pelo vidro? Foi quando percebi que a verdadeira tecnologia que precisamos dominar não é a tela, mas a arte de estar presente.
Então, a próxima vez que seu filho perguntar àquele assistente virtual sobre as estrelas, talvez valha a pena desligá-lo um pouco e olhar para o verdadeiro céu juntos. Ali, sem telas, é que encontramos as respostas que realmente importam.
